quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Cesare Battisti, Cicciollina, Salvatore Cacciola e tutta quella gente!

Caro mio,

Ando distante deste brinquedinho de "faz de conta que sou escritor" desde o começo do mês de agosto passado, e volto hoje, an passant, para fazer um leve e rápido aceno a "tutta quella gente" da bota, Italia mia. As coisas da Itália e dos italianos sempre estiveram muito próximas de mim, desde a minha tenra infância até hoje. Jamais estive na bota, a terra de Michelangelo, Leonardo da Vinci, São Francisco de Assis, Fellini, Sophia Loren e Il Duce, mas vivendo aqui em São Paulo, local de forte concentração da imigração italiana não passei imune a toda influência cultural que os italianos e italianas nos propiciam, a começar pela minha família e pela macarronada da nona aos domingos. Em especial, morando no bairro do Bras, ao lado da Mooca, há mais de vinte anos, participando de festas paroquiais, como a de Nossa Senhora de Casaluce, São Vito e San Gennaro, aprendi a ser devoto de santos e a comer polenta com molho de tomate. E, la nave va.

Mas, a bota não é mencionada aqui à toa. Recentemente o governo italiano andou às turras com o Brasil, por que o Supremo Tribunal Federal STF reconheceu por legítima a decisão do presidente da República (à época Lula) de conceder asilo político a Cesare Battisti. A história é conhecida por todos, e cinge-se ao fato que Battisti foi condenado a prisão perpétua por ter cometido assassinato de 4 pessoas na década de setenta, quando pertencia a grupo terrorista na Itália. Battisti nega as acusações e diz que isto é mentira, que sua prisão e condenação são de ordem política. A decisão do governo brasileiro foi de não conceder a extradição e recebê-lo como exilado político. Dentre algumas razões estaria o fato de que o processo judicial na Itália estava viciado e não havia sido garantido o direito a ampla defesa e o contraditório a Battisti. Veja que arrogância, o Brasil ensinar direito à Itália, berço da civilização ocidental e do Direito Romano.

 O governo de Berlusconi (justo ele, o boçal que curte uma festa regada a putaria, segundo acusações judiciais) ficou indignado e prometeu todo o tipo de retaliação, desde a suspensão da participação da seleção italiana de futebol na copa do mundo de 2014 no Brasil, como outras bravatas típicas do falastrão. Mas não foi só a Berlusconi que a decisão brasileira irritou. Parte da classe média brasileira e alguns imbecis que não entendem do assunto mas adoram falar bobagens ficaram indignados, amaldiçoaram a decisão de Lula, do STF e até o próprio Battisti.

Eu particularmente adorei ter Battisti no Brasil. Pernaquia para estes bobocas que adoram Miami, halloween e acham que o Brasil é uma bosta - só no Brasil mesmo! é a bravata desta gentalha -  e acham chique dizer que o berço da civilização ocidental é a Itália.

Ao menos assim, nossa história não ficará somente manchada com asilos políticos de gente como o paraguaio Estroesner, ditador sanguinário de direita. Nem também seremos eternamente lembrados por Getúlio Vargas ter entregue, via Felinto Muller, a judia e comunista Olga Benário para ser executada pelos nazistas nos campos de concentração da segunda guerra. Guerra esta, que a Alemanha tinha por principal aliada a bota de Mussolini.

Há pouco tempo o Brasil também teve outro problema com a Itália, quando o banqueiro Salvatore Cacciola, então proprietário do banco Marka, fugiu do país, depois de ser libertado da prisão em razão de uma liminar do STF. Ele era acusado de um golpe milionário no Banco Central, por ter recebido dinheiro de ajuda ao seu banco, que já estava falido. Golpe contra o contribuinte brasileiro, que não tem hospital público nem saúde pública, não tem transporte público, escola decente nem moradia.

Cacciola fugiu para a Itália, depois de solto com a liminar do STF e lá ficou morando. Sendo possuidor de duas nacionalidades, a brasileira e a italiana, não encontrou problema de se instalar na bota. O governo brasileiro pediu a extradição de Cacciola, mas o governo italiano negou, sob a alegação que se tratava de um cidadão italiano. Não vi nenhum daqueles imbecis amantes de Miami e de halloween dizendo que o berço da civilização estava errado. Ao contrário, duvido até que houve interesse sobre o assunto. Nesta hora, eles usam a velha estratégia de invocar a ignorância para despistar qualquer saia justa. E não passam recibo. 

Cacciola foi pego em Monaco e extraditado para o Brasil. Hoje vive cumprindo pena, mas logo logo entrará em regime aberto. Grana que é bom ele devolver, isto não tenho notícias.

Mas a contradição não pára por aí. Li recentemente que a sexagenária peituda Cicciolina, ex atriz porno e ex deputada italiana acabara de pedir sua aposentadoria, como se parlamentar fosse. Explico: Em razão de seus peitos e de seus gemidos nos filmes pornográficos, além de outros atributos, Cicciolina ficou famosa e o povo do berço da civilização ocidental consagrou-a nas urnas como deputada federal. Isto lá se vão uns vinte anos, mais ou menos. Nós ainda não chegamos lá. O máximo que fizemos foi eleger o alfabetizado Tiririca.

Lá na Italía tem uma lei que permite aqueles que ocuparam mandato parlamentar de se aposentarem com proventos iguais ao salário de deputado, se contribuírem por alguns anos para o sistema de previdência do legislativo. Vejam que coisa horrível, dinheiro público pagando pensão e aposentadoria de deputado para quem exerceu mandato uma única vez, bastando que a pessoa somente contribua com pagamento por alguns anos. Este tipo de lei também tinha aqui no Brasil, e um montão de gente se beneficiou desta indecência (Irma Passoni e José Genoino por exemplo) mas uma onda moralizadora (eu repito, moralizadora) acabou com esta festa indecente, uma coisa horrível a menos. Pelo jeito, o berço da civilização ocidental ainda mantém esta lei por lá, com toda a crise mundial. Tá faltando o FMI dar um puxão de orelhas no berço, assim como fizeram reiteradas vezes no Brasil, nos anos 80 e 90.

Bom. Devagarinho eu tô voltando. Vou comer uma pasta agora. Ciao bello.

Um comentário:

Anônimo disse...

Várias pessoas no mês de dezembro de 2011, viram o ex-banqueiro Salvatore Cacciola com o advogado criminalista Luiz Felipe Mallmann de Magalhães, no restaurante vermelho grill, em Porto Alegre. O advogado é conhecido por advogar para empresários envolvidos com evasão de divisas, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro.