quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Bolsa Família - O preconceito e uma cultura de desprezo pelos mais pobres.

Classe média – uma tripla abominação: política, ética e cognitiva.

Este post é uma provocação.  Sim, é sim. Mas não é uma provocação infantil, inútil, para satisfazer propósitos mesquinhos. É para reflexão.

Toda vez que me deparo com assuntos que dizem respeito a analisar o comportamento e a mentalidade da classe média, tenho a sensação de estar cometendo matricídio de classe social. Sou o típico filho desta classe social, e talvez por isto a conheça tão bem no seu pior sentido. Desde os idos tempos em que estudava no colégio Meninópolis, escola de classe média do bairro paulistano do Brooklin Paulista, até quando ingressei nas Arcadas, na velha e sempre nova Academia de Direito do Largo São Francisco, fazer parte, conviver com e na classe média foi uma experiência de entorpecimento moral, alienante e, ao mesmo tempo, que provocou sentimentos dos mais perversos, discriminatórios, preconceituosos, invejosos e, acima de tudo, individualistas, mesquinhos e egoistas. 

Hoje, ao ler a entrevista da pesquisadora Walquiria Leão do Rego e imediatamente assistir ao vídeo de Marilena Chauí – tudo isto presente neste post - fico com a alma lavada e enxaguada e continuo apostando que a solução dos males da classe média está em aprender o que é e como se pratica a solidariedade. Esta é a sua oportunidade de se redimir.

Miami, we hate you!   Complexo de cachorro vira lata we hate you too.

Na data de ontem, no Blog do jornalista Roldão Arruda, (clique aqui) do portal do Estadão, foi publicada uma entrevista com a cientista social Walquiria Leão Rego, que recentemente realizou um trabalho de pesquisa com o filósofo italiano Alessandro Pinzani no período de 2006 a 2011. Eles ouviram mais de 150 mulheres beneficiadas pelo programa Bolsa Família, localizadas em lugares remotos e frequentemente esquecidos, como o Vale do Jequitinhonha, no interior de Minas e outras localidades no sertão do Piauí.

O resultado da pesquisa está no livro Vozes do Bolsa Família, lançado há pouco. Segundo as conclusões de seus autores, o incômodo e as manifestações contrárias que o programa desperta em alguns setores não têm razões objetivas. Seria resultado do preconceito e de uma cultura de desprezo pelos mais pobres.

Os pesquisadores também rebatem a ideia de que o benefício acomoda as pessoas. “O ser humano é desejante. Eles querem mais da vida como qualquer pessoa”, diz Walquiria, que é professora de Teoria da Cidadania na Unicamp.

A entrevista de Walquiria Leão Rego  traz pontos muito interessantes e reveladores, tais como:

(i)                 dar dinheiro aos beneficiários do programa Bolsa Família é uma forma de conferir maior liberdade à população, ao invés de distribuir cestas básicas. As pessoas escolhem o que fazer com o dinheiro e a escolha é um direito na sociedade democrática.  Diz Walquiria que Toda a sociologia do dinheiro mostra que sempre houve muita resistência, inclusive das associações de caridade, em dar dinheiro aos pobres. É mais ou menos aquele discurso: “Eles não sabem gastar, vão comprar bobagem.” Então é melhor que nós, os esclarecidos, façamos uma cesta básica, onde vamos colocar a quantidade certa de proteínas, de carboidratos… Essa resistência em dar dinheiro ao pobres acontecia porque as autoridades intuíam que o dinheiro proporcionaria uma experiência de maior liberdade pessoal.

(ii)               Outro ponto relevante é que é baixo o custo do Bolsa Família (0,5% do PIB), mas incomoda muito a classe média, o que revela o preconceito que ela tem em relação aos pobres.

(iii)             Há um estereótipo de que o beneficiado com o Bolsa Família se acomoda. Não é verdade. Os salários pagos pela iniciativa privada (empresários e comerciantes) são na maioria das vezes menor que o Bolsa Família, o que os compara a tratamento de semi escravidão dos trabalhadores. Assim, é melhor não trabalhar e receber o Bolsa Família do que permanecer na condição de semi escravo.

(iv)              O Bolsa Família tornou visíveis cerca de 50 milhões de pessoas, tornou-as mais cidadãs. Essa talvez seja a maior conquista.

O post de Roldão Arruda, intitulado “Preconceito contra Bolsa Família é fruto da imensa cultura do desprezo” recebeu em menos de 24 horas mais de 25 mil recomendações de leitura pelo Facebook. Este blog é um dos mais lidos dentre todos os do Portal do Estadão há algum tempo.

E, na onda de malhar a classe média e a sua mesquinha cultura de discriminação e desprezo, trago aqui o vídeo de 13 minutos em que Marilena Chauí faz uma detalhada e clara explanação sobre o perfil da classe média paulistana, concluindo que ela tem mentalidade e comportamento de abominação ética, política e cognitiva.

A professora Marilena Chauí participou de um debate no inicio do mês de julho de 2013 no Sindicato dos Advogados de São Paulo, por iniciativa e a pedido da tendência política Consulta Popular, para discutir as manifestações populares ocorridas no mês de junho e as perspectivas políticas decorrentes.

Também foram convidados como debatedores o advogado e sindicalista Ricardo Gebrim e o jornalista  Alípio Freire. Ao final de sua exposição a Professora Marilena Chaui foi solicitada a falar sobre sua opinião em relação à classe média, em especial a paulistana, e sobre suas três formas de abominação: a cognitiva, a ética e a política.

Nos seus relato e análise vê se que a situação da classe média, de não ter definição, nem identidade é patética. Não pode ser capitalista, por que não tem capital, e ao mesmo tempo demoniza o proletariado, por que tem preconceito contra ele. Assim, só lhe resta ser a guardiã da moralidade e da segurança pública. Patético.


Diferentemente das outras vezes que falou sobre este assunto, a Professora fez uma previa explicação sobre as diferentes definições de classe média e os programas e projetos sociais do governo brasileiro. Na sua opinião não há uma nova classe média no Brasil como quer fazer crer o governo federal, mas uma nova classe trabalhadora, 40 milhões de brasileiros que saíram da miséria e hoje estão inseridos no mercado de trabalho do modelo econômico neoliberal.

Assistam ao vídeo, ele é muito bom.





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